segunda-feira, 13 de agosto de 2012









Chica fuxica


Ela tá lá, sentada na soleira da porta
Com lápis e papel na mão
O mundo parece nem existir
Ô mulher descansada!
Dizia Chica

Maria entrou em seu mundo secreto, fechou portas e janelas, a ninguém mais quis ver ou ouvir.
As palavras fluíam, fluíam...na mesma proporção que a poeira se depositava sobre os móveis.
Lembranças se misturavam aos pensamentos, e suas mãos discorriam sobre o papel na mesma
velocidade que a louça se acumulava sobre a pia, aquele, definitivamente, não era dia para outra
coisa que não fosse poetizar...

Ela tá lá, sentada na soleira da porta
E hoje nem é domingo
O marido saiu cedo
Eu vi pela fresta da janela!

Para Maria bastava o dia ser dia, pois a noite viria sem pressa. Seus olhos estavam postos
no que era invisível aos olhos alheios. De certo que as contas viriam e José chegaria para o jantar,
sim, e talvez trouxesse um ou dois amigos além, mas inventar na cozinha era uma arte que herdou de sua mãe.  Maria, como ninguém, economizava  para as contas e a limpeza da casa ela tirava de letra,
assim como tirava os poemas na soleira da porta,  e disso Chica não sabia...

Búzios, 12/08/07
Marisa Costa





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